NADANDO CONTRA A ASMA

Estudo conduzido no Ciped com crianças comprova benefícios da natação

Um grupo de pesquisadores da Unicamp conseguiu comprovar cientificamente que a prática da natação melhora o quadro geral da criança com asma. O estudo foi conduzido no Centro de Investigação em Pediatria (Ciped) da Unicamp e utilizou um marcador clínico, a hiper-responsividade brônquica, para atestar a evolução positiva na melhora clínica de 30 pacientes, entre 7 e 18 anos, acompanhados no Hospital das Clínicas. Os resultados demonstraram que os portadores da doença, depois de passarem pelos exercícios aquáticos e de técnicas de natação por um período de três meses, tiveram uma diminuição significativa da hiper-responsividade brônquica – termo que indica o aumento da sensibilidade que ocorre nos brônquios dos pacientes com asma.

“Não é novidade o bem que a água pode proporcionar ao paciente. Muitos médicos indicam a prática da natação para minimizar a exacerbação dos sintomas desta doença, que é crônica e muito comum na infância. Mas, a maioria dos estudos apresentou resultados controversos ou não comprovados”, destaca a fisioterapeuta Ivonne Bernardo Wicher, uma das autoras do trabalho, que apresentou uma dissertação de mestrado sobre o assunto na Faculdade de Ciências Médicas (FCM).

A pesquisa foi uma das três finalistas do Prêmio Saúde, promovido pela Editora Abril. Os resultados também foram publicados no final de 2010 no Jornal de Pediatria, editado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, em artigo científico intitulado “Avaliação espirométrica e da hiper-responsividade brônquica de crianças e adolescentes com asma atópica persistente moderada submetidos à natação”.

Como principal inovação do trabalho, Ivonne enumera a utilização do marcador clínico como indicador da melhora da asma antes e após o treinamento da natação em crianças. Anteriormente, só a percepção – um aspecto subjetivo – sugeria a melhora do paciente. Com as investigações realizadas no Ciped, foi possível detectar o efeito positivo que a prática exerce no portador da doença. Antes de passarem pelas aulas de natação em 24 sessões, os pesquisadores submeteram estas crianças e adolescentes voluntárias ao teste de broncoprovocação que consiste na inalação de doses crescentes de metacolina – para avaliar o estado inicial do quadro. No início, comenta a fisioterapeuta, doses mínimas já acarretavam crises nos pacientes.

Ao longo dos exercícios de natação, além do ensino das técnicas, eram também realizadas práticas de conscientização sobre a respiração e orientações gerais. “O que mais surpreendeu foi perceber o quanto as crianças assimilavam o conteúdo de tais práticas e como absorviam rapidamente as técnicas de natação. Das 30 voluntárias do grupo de natação, apenas quatro já sabiam nadar”, explica a fisioterapeuta, que enfatiza a necessidade de se propor exercícios dirigidos, focando a necessidade específica de expiração. “A pressão hidrostática da água também ajuda na expiração do asmático, um dos principais problemas enfrentados pelo paciente”, esclarece. Os benefícios da natação também decorrem do fato de que a posição horizontal favorece um padrão expiratório mais adequado e constante do que outros exercícios, além dos benefícios associados à alta umidade das piscinas.

Após três meses de prática do esporte, duas vezes por semana em aulas de 50 minutos, as crianças e adolescentes foram novamente submetidos ao teste de broncoprovocação por metacolina. Os resultados foram tão surpreendentes, lembra Ivonne, que muitos queriam abandonar o medicamento. “A melhora foi visível, pois a maioria espaçou o intervalo das crises. Este fato os fazia pensar que estavam curados. Mas sempre explicávamos que a asma é uma doença crônica”, esclarece. A natação pode atuar como uma terapia auxiliar junto ao tratamento medicamentoso. O resultado do estudo ao ser comparado ao grupo controle, composto por 31 crianças que participaram dos testes de broncoprovocação, mas não praticaram a natação, atestaram o melhor desempenho dos praticantes do esporte.

Texto: Raquel do Carmo Santos 
Fonte: Jornal da Unicamp